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domingo, 29 de dezembro de 2013

Aos Amantes


Meu amante,
 
São oito horas da noite... Na rádio passa uma dessas músicas que eu ouço enquanto passo meu batom vermelho e saio para tentar me apaixonar outra vez... Bem que eu queria, amar outro homem assim, como se anoite fosse eterna e me esquecesse de tudo quando o dia clareasse, mas... Acho que você entende que a única coisa que eu quero é voltar para a minha cama e te amar... Sempre pode ser a última vez... Talvez eu não acorde amanhã... Talvez eu vire pó para raízes de cactos no deserto... Talvez eu me transforme em um arco-íris e console a chuva na Noruega... Lá também existem arco-íris, sabia? Eu sei que o nosso amor é difícil, que desconfiamos de nossos erros e inventamos nossas próprias mentiras... Seria mais fácil esquecer dos nossos momentos de solidão, das garrafas de vinho, dos meus cigarros, e da presença indesejável do mundano que se enroscou em nossos pés... Mas em que asas eu poderia me agarrar? Presos nesse tempo em que somos todos desprezíveis, em que nenhuma paixão consola, nesse tempo em que tudo ainda é pouco... Mas o que é que podemos fazer além de nos agarrar em nossos corpos e nos entregarmos ao nosso desejo? O que nos condena também é a única coisa que pode nos salvar... Por isso hoje, meu amor, perdoe-me o meu espírito turvo e embriagado, e me adore mais uma vez... O destino ainda não é tão sedutor quanto nossa vã materialidade...
 
Sua amante.

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