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domingo, 29 de dezembro de 2013

Carta do Poeta

 


Meu amor,
 
Invento todos os versos para te fazer acreditar que te amo profundamente, e que ainda que milhares de mulheres desfilem nuas diante dos meus olhos, só por você o meu desejo mais secreto... Só nos seus seios que eu encontro o abrigo para a minha solidão, e pela batalha amarga que travo em todas as madrugadas, lutando pelo simples direito de te amar, ainda que te julguem pelas roupas que largou em tantas camas, ou pela cruel entrega que vence os meus sentidos. Eu queria que essas palavras iluminassem o seu sorriso e te fizessem acreditar que eu realmente te acho perfeita, e que seus sonhos estão guardados no meu coração... Só te peço que não me faça mais sofrer, que me aceite do jeito que eu sou, e que me abrace forte mais uma vez... O amor é algo tão precioso, meu anjo... Acreditar em nosso amor é a única maneira de vencer as sombras que nos fizeram tão frágeis a ponto de nos perdermos de nossas vidas. Eu acredito em um lugar onde eu possa te ver brilhar e novamente sorrir a sua ilusão de amar...
 
 
Sempre seu...

Carta de Adeus

 

Meu amado...
 
Vê como está distante o meu poema mais perfeito? Aqui nessas ruas eu vou me esquecendo, embriagando-me lentamente até que não reste mais nada a lamentar... Juro que tentei, mas meus erros me aprisionaram em lembranças destrutivas, em vazios de entardecer solitários. Por mais que eu tentasse me esquecer, algo sempre me arrasta para os mesmos becos da juventude, onde eu tirava a roupa para ter alguma história para contar... As lágrimas, me faltam... É uma tristeza feita de pedra, esperando o dia em que eu possa explodir e lançar o sangue das minhas feridas nos rostos cinzas da escuridão. Esses olhares que me espiam me machucam tanto... Nem voz tenho para gritar... E nenhuma oração me convence mais... De que adianta um Deus crucificado em altares? De que adianta as músicas que eu ouço nas rádios? De que adianta a cordialidade no sorriso dos transeuntes? Nada mais pode me consolar... O barco que espero para hastear a minha bandeira branca e partir, esse demora, perdido em outros mares. Mas tão logo o resto da esperança se esvaia dos meus pensamentos, fecharei meus olhos e repousarei entre as estrelas inacessíveis... Toda a mediocridade e toda a vaidade cairá por terra, aos pés dos que aguardavam na arquibancada o desfecho final. Não chore se eu guardar o seu coração no meu sonho mais bonito... Esse tempo é só um planetinha girando sem destino...
 
Sua amada imortal...

Aos Amantes


Meu amante,
 
São oito horas da noite... Na rádio passa uma dessas músicas que eu ouço enquanto passo meu batom vermelho e saio para tentar me apaixonar outra vez... Bem que eu queria, amar outro homem assim, como se anoite fosse eterna e me esquecesse de tudo quando o dia clareasse, mas... Acho que você entende que a única coisa que eu quero é voltar para a minha cama e te amar... Sempre pode ser a última vez... Talvez eu não acorde amanhã... Talvez eu vire pó para raízes de cactos no deserto... Talvez eu me transforme em um arco-íris e console a chuva na Noruega... Lá também existem arco-íris, sabia? Eu sei que o nosso amor é difícil, que desconfiamos de nossos erros e inventamos nossas próprias mentiras... Seria mais fácil esquecer dos nossos momentos de solidão, das garrafas de vinho, dos meus cigarros, e da presença indesejável do mundano que se enroscou em nossos pés... Mas em que asas eu poderia me agarrar? Presos nesse tempo em que somos todos desprezíveis, em que nenhuma paixão consola, nesse tempo em que tudo ainda é pouco... Mas o que é que podemos fazer além de nos agarrar em nossos corpos e nos entregarmos ao nosso desejo? O que nos condena também é a única coisa que pode nos salvar... Por isso hoje, meu amor, perdoe-me o meu espírito turvo e embriagado, e me adore mais uma vez... O destino ainda não é tão sedutor quanto nossa vã materialidade...
 
Sua amante.

Amor...

 

Ao meu coração...
 
Quanto do tempo já se perdeu, sem você aqui, saciando a minha sede de amar... Escrevo agora antes que o ódio que nos envenenou nos afaste, e torne fraco os nossos laços entre as nuvens que se espalham no firmamento. Todos os dias eu adormeço ansiando pelos seus beijos antes que o sol invada as frestas da janela do meu quarto. Mas eu abro os olhos e o que me resta é vestígios do seu cheiro ao meu redor, sumindo com o pó que se desprende do teto de madeira. E eu percebo então que não está aqui, que não posso abraça-la por dois minutos, e dizer que te amo de todas as maneiras que a minha imaginação ousar inventar. O silêncio é surpreendido pelo cantos dos pássaros, e eu sinto vontade de chorar toda a dor empedrada no meu peito, mas apenas duas ou três lágrimas escorrem pela minha face. Então eu me esqueço de que talvez não nos reste tanto tempo assim... Que nesse mundo o amor ainda é algo tão vulnerável que qualquer espinho, agulha, ou ramo farpado consegue destruir. Se não houver um lugar para nós, nenhum poema terá sentido... Por isso, meu amor, ainda que o universo seja feito de um vazio impenetrável, lembre-se sempre que eu estive aqui, para que o seu olhar tivesse sempre um horizonte para sonhar... Ainda que as margens dos nossos oceanos estejam distantes e cobertas de pedras.
 
Seja por mim, o que tiver que ser...
 
Te amando sempre...
 
 

Destinatário: Você

 
 
Meu amor,
 
Hoje eu acordei com medo que talvez não estivesse aqui. Que a madrugada pudesse te levado para um lugar escuro, onde eu não poderia te iluminar. Abracei o travesseiro, procurei o seu sorriso. Esse sorriso que deu sentido à minha ilusão, de que em breve os oceanos serão pequenos diante do desejo de te encontrar. Não que já não esteja aqui, dentro de mim... Mas ainda quero sentir o gosto dos seus lábios antes do anoitecer, e dizer todas as palavras que eu nunca consegui dizer, por medo, ou por fraqueza. Tanto se diz sobre o amor, mas todos se esquecem de realmente acreditar em seus corações. Por isso eu estou aqui, observando o céu cinzento desse domingo, imaginando o que possa estar fazendo agora... Se existem horas em que as lágrimas te invadem, e se procura meu rosto na sombra das paredes... Se procura vestígios do meu amor em alguma poesia esquecida... E se consegue imaginar a minha voz a cantar distraída pelas ruas dessa cidade...
 
Aqui, nesse tempo que eu esqueci,
Haviam rosas em todos os jardins,
Mas sem querer meus olhos não perceberam a cor,
Que nos seus olhos eram amor.
Perdoe-me tantas vezes que atravessei a rua,
Sem me agarrar às suas mãos...
 
Sempre sua,
 
Adhara.